quarta-feira, 25 de junho de 2008

Crônica - Bom dia despertador.

Há tantas teorias de qual seria o momento certo para alguém dizer bom dia. Você pode até acreditar que seja após o café da manhã, ou antes, de sua mulher lhe encontrar no corredor, descabelada, remela nos olhos e aquela expressão de mau humor no restante da face. Claro, não são todos os homens, que vivem esta cena em todas as manhãs, de segunda à sexta-feira, como eu vivo. Mas francamente, após tudo isso acontecer, a origem do “bom dia”, se torna uma grande incógnita, porque afinal, quando é que o dia começa a ficar bom?

Acordo religiosamente às 6 da manhã. Levanto e após um alongamento, repito uma série exercícios. Para espantar a preguiça, tomo um banho. Quando não chove, gosto de caminhar até a banca de jornal, conversar com o jornaleiro e tomar café com o povo que compra pão cedo na padaria. Se a mulher dorme bem mais do que eu, e o tempo passa (para ela), é preciso se preparar para uma série de reclamações acintosas. A culpa é minha e porque haveria de ser diferente, não é?

E acontece, olha que acontece! Isabela chega a ligar no meu trabalho, em plena reunião de quinta-feira, para recordar aquele evento ocorrido no início da aurora: “Pedro, porque Pedro? Perdi o metrô e o chefe fez cara feia por que o senhor não me acordou de manhã, que vacilo”. Ela me culpa e sequer se ocupa de saber, como estaria sendo “o meu dia”. Com toda calma, respondo sem pressa e ela se cala: “Olá Isabela, bom dia?”.

Trabalho com números. Ouço todo o santo dia de feira, o valor das bolsas, subir, descer, faça chuva ou faça sol. Dentre tantas planilhas e comparações gráficas, o indivíduo que agora escreve. Um Pedro qualquer, pacato e “casado” (não posso esquecer este detalhe), pensa no real motivo que estimula tanto as pessoas a dizer, mesmo que não seja verdade, “bom dia”.

Tem um ponto aí que me deixa até mais contente. O verdadeiro culpado do mau humor da minha mulher não sou eu, mas o despertador. Mas talvez aí esteja a raiz de todo o mal: nós não temos um despertador.

Pode ser um exagero de cidadão moderno, mas o bom dia da minha mulher provavelmente depende desta invenção. Explico. Por hábito, não preciso de nada para me acordar. Por instinto, como um matuto do interior, sei exatamente qual é a hora do galo cantar. Deve ser hereditário, meu pai tinha este mesmo hábito. Será que ele sofreu algo deste tipo com minha mãe? Mistério.

O fim é como uma novela da TV, uma surpresa. Com uma caixa embaixo do braço, me apresso para chegar ao quarto. Isabela aparece, faz tudo do mesmo jeito e nem dá bola para minha empolgação, em plena terça-feira. A desatenção dela é tanta, que após devorar meio sanduíche de atum e tomar um banho, desmaia na cama, sem sequer dizer “boa noite”.

SÃO 7 da manhã, uma voz suave e masculina repete em volume agradável: “Isabela, meu amor, acorde. Já são 7 da manhã, hora de levantar. Mas senão quiser, pode ser daqui 10 minutinhos”. Entre intervalos de soneca, a máquina toca New Age, relaxante, que prepara bem o espírito de quem ainda não começou o dia.

Graças às maravilhas da tecnologia, consigo ter e ouvir, um “bom dia” da minha mulher. O que seria da minha vida sem esse coadjuvante, que se tornou importante nas minhas histórias matinais, que repete uma mensagem gravada por mim à ela, enquanto dou uma corrida até a padaria, para provar do meu “bom dia”. Ah, muito obrigado despertador, o dia começa a ficar bom quando você toca.

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